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Não confunda Plano com Estratégia

A inevitável maré do tempo impõe às empresas uma decisão: adaptar-se ou perecer. Para as organizações que escolhem o caminho da sobrevivência, surge o desafio da metamorfose, da reinvenção. Esta dança complexa traz consigo uma série de máscaras: gestão total da qualidade, reestruturação, mudança cultural, recuperação e outros. Mas a armadilha se esconde na sombra do insucesso que, muitas vezes, acompanha tais esforços. A razão? A confusão entre plano e estratégia, a falha na liderança efetiva da mudança.

“Numa batalha, o inimigo não dá a mínima para o seu plano. Ele tem a própria estratégia e, pode ter certeza, a sua vitória não está nos seus planos.”

Os líderes de êxito compreendem essa sutileza. Sabem que o plano é um mapa, o “como”, mas a estratégia é o “porquê”. É a estrela polar que guia a jornada, não importa quão tempestuoso seja o mar ou quão imprevisto o terreno.

A falha na condução da mudança frequentemente ocorre quando os líderes confundem plano com estratégia. Enganam-se ao crer que uma série de passos bem elaborados é suficiente para enfrentar a tempestade. Mas a realidade é implacável. A realidade não dá a mínima para nossos planos. Assim como o inimigo numa batalha, a realidade tem sua própria estratégia.

O plano é um conjunto de ações traçadas visando um objetivo específico, é o mapa para um destino conhecido. A estratégia, por outro lado, é o farol na tempestade, orientando a tomada de decisões em meio às incertezas, guiando através de territórios inexplorados.

Roger Martin, em meio à confusão das batalhas corporativas, nos lembra de uma distinção vital: a diferença entre um plano e uma estratégia. Em sua visão, um plano é um roteiro detalhado, uma série de passos meticulosos destinados a alcançar um objetivo preestabelecido. É concreto, mensurável e, acima de tudo, sob nosso controle. Por outro lado, uma estratégia é algo mais abstrato, profundo. É o guia para vencer o jogo, independentemente das circunstâncias, sejam elas controláveis ou não.

Como exemplo, vamos considerar dois casos da indústria da tecnologia: a transição da Microsoft para a computação em nuvem e a mudança de foco da Kodak (sim, o bom e velho exemplo da Kodak)

Primeiro, olhe para a Microsoft. Quando Satya Nadella assumiu como CEO em 2014, ele viu o futuro da computação na nuvem. A estratégia era clara: transformar a Microsoft em um líder no espaço de computação em nuvem. O ‘porquê’ era porque a computação em nuvem estava preparada para ser a próxima grande onda na tecnologia e a Microsoft precisava estar na crista dessa onda para se manter relevante.

O plano para implementar essa estratégia envolvia várias etapas. A empresa teve que investir bilhões de dólares na construção de centros de dados em todo o mundo. Eles tiveram que reconstruir muitos dos seus produtos de software para que funcionassem na nuvem. E tiveram que reorganizar a empresa para se concentrar na venda de serviços de computação em nuvem.

Agora, vamos para a Kodak. A Kodak era uma gigante no setor de fotografia, mas falhou na transição para a era digital. A empresa tinha um plano para a era digital – de fato, eles foram um dos pioneiros em tecnologia digital. Mas o problema estava na estratégia.

A estratégia da Kodak estava focada em preservar o negócio de filmes, porque era aí que estavam os lucros. Eles viam a tecnologia digital como uma ameaça ao negócio de filmes, então a estratégia era usar a tecnologia digital para melhorar a experiência de filme.

Essa estratégia estava errada porque não reconheceu a mudança fundamental que a tecnologia digital representava. O ‘porquê’ de sua estratégia estava focado no passado (proteger o negócio de filmes) em vez de olhar para o futuro (adotar a fotografia digital).

Então, nesses dois casos, vemos a diferença entre plano e estratégia. A Microsoft tinha uma estratégia clara e um plano para implementá-la. A Kodak tinha um plano, mas sua estratégia estava errada porque não reconhecia a mudança fundamental no ambiente.

Por isso, líderes corporativos precisam compreender que o plano é o “como”, a tática, a manobra que nos movimenta no campo de batalha. A estratégia, por sua vez, é o “porquê”. É a razão pela qual lutamos, pela qual nos movemos de uma maneira e não de outra. Uma estratégia bem formulada nos permite vencer o jogo, independentemente das circunstâncias. É o farol que nos guia na tempestade, a bússola que orienta nossas ações, não importa o quão caótico seja o ambiente. É a diferença entre combater uma série de batalhas desconexas e travar uma guerra com um objetivo claro e definido.

Gilberto Strafacci Neto

Chief of Strategy da Practia no Brasil (www.practiaglobal.com.br) e Senior Partner do Setec Consulting Group (www.setecnet.com.br). Master Business Essentials CORe Program pela Harvard Business School, MBA em Liderança e Inovação, Engenheiro Mecânico pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Master Black Belt, Agile Coach, Design Thinker, Manager 3.0, Certified Six Sigma Master Black Belt pela American Society for Quality (ASQ) e Certified Scrum Master pela Scrum Alliance e Facilitador Certificado LEGO® SERIOUS PLAY®

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