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Possivelmente você já viveu essa experiência no seu bairro ou cidade: a duplicação de uma via que potencialmente iria gerar melhoria no trânsito mas que de fato criou gargalos e restrições em várias outras áreas, piorando a condição de fluidez do tráfego em geral. Parece ambíguo, mas quando falamos de descentralizar iniciativas de tecnologia, devemos ter o mesmo cuidado para não criarmos mais problemas do que soluções.

As soluções low-code e no-code (chamarei de LCNC) podem acelerar a adoção do uso de tecnologia e a automatização do fluxo de trabalho por usuários de negócios e desenvolvedores cidadãos, ao mesmo tempo em que ajudam as equipes de desenvolvimento de software a reduzir suas demandas e dependências, criando duas vias de construção de soluções digitais na organização. A adoção de ambos caminhos é estratégica, porém o caminho precisa ser preparado e pavimentado para evitarmos frustração e retrabalhos.

As soluções LCNC fazem parte de uma tendência de modernização em softwares para construção de aplicativos, automações e análise de dados, possibilitando que as empresas movam os silos de uma infraestrutura monolítica para um visão mais ágil, centrada na nuvem e baseada no desenvolvimento conjunto e colaborativo com as áreas de negócios. A discussão sobre a aplicação correta dessas soluções é fundamental, a partir da liderança de tecnologia e da organização, de tal forma a desconstruir a visão que onera as áreas de segurança, dados, acessos e sustentação, sem gerar resultados tangíveis. Aí está o desafio: como utilizar as soluções LCNC de tal forma a criar valor e dar vazão às demandas que não seriam executadas pelos desenvolvedores nem no curto ou médio prazo.

Em termos simples, as soluções LCNC fornecem uma abordagem de desenvolvimento visual, drag and drop, que permitem aos usuários ou desenvolvedores construir soluções através de blocos minimamente pre-existentes para o desenvolvimento rápido de soluções digitais sobre as mais diferentes tecnologias: RPA, BI, Aplicativos e Chatbots.

Para equipes de negócios, tentar adotar soluções LCNC sem fazer parceria com equipes de tecnologia irá limitar em muito o escopo, a escala e a velocidade do desenvolvimento. Sem licenças, acessos, dados e ambientes, desenvolver sem apoio da área de tecnologia é como correr uma competição de atletismo com uma mochila cheia de pesos. Não faz sentido, dessa forma, ter uma iniciativa LCNC sem colaboração, preparação e desbloqueando o máximo do seu potencial.

Os fornecedores de software têm promovido as soluções LCNC como uma panacéia para a formação de desenvolvedores cidadãos. Torna-se uma fantasia toda vez que é vendido o sistema treinar-executar, como se bastasse colocar as pessoas numa sala de aula e depois liberar sua criatividade para desenvolver soluções e automações. O resultado será frustração, retrabalho e perda de recursos. O marketing dessas empresas estão lançando uma narrativa de que os usuários de negócios podem reunir rapidamente dados, insights ou fluxos de trabalho no contexto de seu trabalho e extrair mais valor através de softwares desenvolvidos em poucas horas. Isso é mentira. É importante observar que as soluções LCNC não devem ser meio de se vender licenças de software para usuários em escala; em vez disso, uma plataforma poderosa para se planejar uma visão e se preparar pessoas, dados e ambientes para uma jornada de digitalização em escala.

O sucesso com LCNC depende da capacitação das pessoas, mas também do acesso aos dados e ambientes para que seja possível extrair, manipular, automatizar ou descartar essas informações de forma segura. Por isso, entende-se que uma trilha de Citizen Developers envolve a preparação dos processos (dados e ambientes), a documentação mínima que deverá ser preparada e a capacitação que envolve aspectos de treinamento, coaching, revisão e apresentação das soluções.

“Não basta treinar e construir. A medida de sucesso com os Citizen Developers é que as soluções sejam sustentáveis e produtivas. Do contrário, a mortalidade dos projetos será altíssima.”

As soluções LCNC bebem na fonte da crescente demanda por modernização de aplicações e acesso aos dados ajudando na construção e entrega mais rápidas, com baixo custo e de forma escalável e replicável. Isso, desde que as condições de contorno sejam satisfeitas. Existem tantas oportunidades de automação e digitalização em uma organização que nenhuma área centralizada, com desenvolvedores profissionais, dará vazão. Seja por capacidade ou por viabilidade econômica. É importante, dessa forma, definir claramente o que deve ser trabalhado pelos Citizen Developers e o que deve ser construído dentro de uma governança e segundo as boas práticas do COE (Centro de Excelência).

O estágio inicial de cada nova tecnologia é muitas vezes cercado de muitos desafios, mas também revela benefícios. Para desenvolvedores de software, os principais benefícios são velocidade e agilidade. As soluções de baixo código ajudam a desenvolver o produto mínimo viável (MVP) e permitem o teste do usuário. As empresas são atraídas por essas soluções para permitir que um número crescente de desenvolvedores casuais do lado comercial trabalhem em sandboxes para se tornarem empreendedores no desenvolvimento, análise e elaboração de fluxos de trabalho experimentais. Testar ideias em um contexto de negócios com os departamentos e usuários-alvo permite que as equipes de desenvolvimento dedicadas se concentrem em prioridades de desenvolvimentos legados e complexos.

As soluções LCNC possibilitam uma mudança de comportamento nos indivíduos, a partir do conhecimento tecnológico fornecido às equipes de negócios, criando maior domínio em temas que são críticos e relevantes em uma organização mais digital e centrada em dados. Assim, a chave será trabalhar em conjunto para definir a melhor forma de integrar o desenvolvimento tradicional e centrado no usuário de tal forma a construir vias que criam benefícios mútuos em prol da entrega de valor e aumento da produtividade nos processos.

Gilberto Strafacci Neto

Country Manager da Practia no Brasil (www.practiaglobal.com.br) e Senior Partner do Setec Consulting Group (www.setecnet.com.br). Master Business Essentials CORe Program pela Harvard Business School, MBA em Liderança e Inovação, Engenheiro Mecânico pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Master Black Belt, Agile Coach, Design Thinker, Manager 3.0, Certified Six Sigma Master Black Belt pela American Society for Quality (ASQ) e Certified Scrum Master pela Scrum Alliance e Facilitador Certificado LEGO® SERIOUS PLAY® (Ver PERFIL).

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