A Necessidade de Apostar em uma Economia Sustentável
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Por Nossa Redação | Eventos
A especialista em desenvolvimento organizacional e transformação, María Lucila Berisso, ofereceu uma visão sobre a situação atual dos sistemas de produção e alertou sobre as mudanças necessárias para proteger tanto os recursos quanto as comunidades: Economia sustentável e a relação com as diversas organizações.
Desde a Revolução Industrial, a economia seguiu um modelo linear: extração de matéria-prima, produção e refinamento para obter um produto acabado, consumo e descarte. “Desde então, outras revoluções, como a tecnológica ou a do conhecimento, impactaram esse modelo, mas não mudaram sua linearidade”, afirmou Berisso na sua palestra no Practia Talks, uma referência em change management, desenvolvimento organizacional e transformação.
Em termos de sustentabilidade, o modelo linear não é eficiente: os recursos e a energia necessários para os esquemas de produção vêm do planeta, que é um ecossistema finito. Embora haja uma regeneração parcial, não cobre a totalidade do que é extraído. “Das 60.000 toneladas de matérias-primas extraídas anualmente, apenas a metade é recuperada, e algo semelhante ocorre com a energia”, destacou Berisso, que também forneceu outros dados alarmantes. “Durante a produção, aplicam-se e geram-se cerca de 100.000 elementos químicos tóxicos diferentes: apenas os Estados Unidos emitem 200.000 toneladas anuais de químicos para a atmosfera”, acrescentou.
Outra característica do modelo linear é que quanto mais ele é repetido, mais bem-sucedido parece ser: “mais consumo significa maiores níveis de rentabilidade. Mais emprego e um aumento do PIB, o que faz com que todos estejam felizes do ponto de vista econômico”, explicou Berisso. Essa abundância, por sua vez, gera acúmulo. “Estima-se que, em um período de seis meses, 90% dos produtos que consumimos são descartados”, indicou a especialista. O dado é apenas a ponta do iceberg: para cada saco de lixo associado a um produto, já foram descartados sete durante o processo de produção. O percentual anual de produtos reciclados, embora esteja aumentando, ainda não chega a 20% do total.
Economia sustentável
Tanto durante a produção quanto durante o consumo, também é emitido dióxido de carbono. “Para dimensionar o impacto gerado na atmosfera, esse sistema produz calor equivalente a quatro bombas atômicas por segundo”, ilustrou Berisso.
A biocapacidade global, ou seja, a capacidade dos países de fornecer recursos biológicos para sustentar esse processo, está em declínio. Embora haja países com superávit, especialmente na América do Sul, África, parte da Ásia e Canadá, as nações com déficit são cada vez mais numerosas. Ao mesmo tempo, a população mundial cresce: os 2,44 bilhões de habitantes de 1950 são hoje 7,79 bilhões.
“Se continuarmos com esses hábitos de consumo, estima-se que o déficit de biocapacidade em 2050 será tal que serão necessários três planetas para atender à demanda”, explicou Berisso, que afirmou que cada vez mais consumidores conscientes estão se fazendo perguntas cruciais. “Antes, eu jogava o lixo fora todos os dias sem me perguntar para onde ele ia, ou comprava um produto de dois dólares sem questionar como esse valor havia sido distribuído ao longo de uma cadeia de valor imensa que talvez começasse com trabalhadores precários na China”, exemplificou.
Segunda parte da palestra com a especialista em sustentabilidade
Na segunda parte, Berisso se concentrou no que chamou de “boas notícias”. “A sustentabilidade tem como objetivo garantir os níveis de bem-estar das gerações atuais sem comprometer os das futuras”, definiu. “Há mais consciência e mais informações de que o planeta Terra funciona segundo um fluxo fechado, onde tudo é reciclado ou transformado. Não há linearidade nem desperdício, tudo é insumo ou alimento para outro organismo”, acrescentou.
Com base nisso, surge a chamada “nova economia” ou “economia circular”, que, como toda transformação, apresenta desafios e muda paradigmas. É necessário pensar em outra forma de extrair as matérias-primas e a energia para produzir, sabendo que não há mais espaço para resíduos, e que tudo o que é utilizado deve ser reincorporado ao ciclo.
Nesse sentido, as energias renováveis avançam a passos largos e as empresas socialmente responsáveis crescem dia a dia, embora ainda não na escala necessária. “A velocidade do avanço não mitiga o impacto: são necessárias ações contundentes, uma revolução na forma de pensar a produção, o design dos produtos e até o consumo”, destacou Berisso, que então enumerou os desafios da economia circular: “medir os fluxos de materiais para entender o ciclo de produção e que se realimentem, cruzar insumos de diferentes ciclos, examinar marcos regulatórios (inclusive questões como datas de vencimento obrigatórias, que nos levam a descartar produtos que ainda são utilizáveis) e, claro, gerar incentivos para empresas e economias verdes”.
Conheça mais sobre a Practia Global
As iniciativas são abundantes e vão desde o plano de ação de economia circular da União Europeia de 2015, que visava reduzir em 70% as emissões e em 65% os resíduos urbanos, até os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, que têm cada vez mais empresas trabalhando no tema. “Não é necessário cumprir todos, mas eles funcionam como motores para definir uma estratégia de sustentabilidade”, afirmou Berisso, destacando casos de empresas no país como Sancor (trabalha com seis), Cervecería y Maltería Quilmes (nove) ou Banco Galicia (doze).
“O foco deve estar em criar empresas de impacto triplo: não é necessário escolher entre rentabilidade, meio ambiente e sociedade, mas sim atender aos três”, explicou Berisso. Já existem certificadoras de organizações de impacto triplo, como o Sistema B. Na Argentina, há 63 empresas que já atenderam aos requisitos. “Os pontos a serem considerados vão desde a inclusão de trabalhadores vulneráveis até a preocupação com o impacto ambiental, passando pela seleção de fornecedores que aderem a práticas de comércio justo”, afirmou Berisso.
O ecossistema está começando a se completar: cada vez mais investidores valorizam e priorizam estratégias sustentáveis ou circulares ao escolher onde investir seu dinheiro, enquanto os consumidores se tornam cada vez mais responsáveis. “73% dos millennials pagariam mais por um produto que sabem ter sido fabricado de forma sustentável. 89% dos consumidores estão preocupados com a proteção do planeta e 79% afirma estar cuidando do impacto pessoal que gera”, apontou Berisso.
Como reflexão final, a especialista deixou uma pergunta: como podemos aproveitar o poder dos negócios e sua capacidade organizacional para resolver problemas ambientais e sociais e promover o desenvolvimento sustentável?
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