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Fonte: Google Images

A automatização irá desbloquear o melhor do nosso potencial: o ser humano.

Sou cético com relação a previsões, ainda mais as pessimistas. Contudo, já vemos mudanças importantes com relação às atividades requeridas e direcionadas aos humanos. O avanço da digitalização e automatização dos processos não é uma ilusão, mas uma realidade.

Um estudo recente da Forrester estimou que 10% dos empregos nos EUA seriam automatizados este ano, e outro da McKinsey estima que quase metade de todos os empregos nos EUA podem ser automatizados na próxima década. Os trabalhos que provavelmente serão automatizados no curto prazo são repetitivos e rotineiros.

Embora muito tenha sido escrito sobre os tipos de empregos que provavelmente serão eliminados e haja muita especulação, cabe avaliarmos adicionalmente uma outra perspectiva: não apenas perguntar quais empregos serão eliminados, mas sim quais aspectos dos empregos remanescentes também serão substituídos por máquinas. E, principalmente, quais aspectos não serão substituídos e irão possibilitar desbloquear e desenvolver o melhor do ser humano.

Por exemplo, considere o trabalho de um médico: é claro que o diagnóstico de doenças em breve (se não já é) será realizado melhor por máquinas do que por humanos. O aprendizado de máquina é espetacularmente eficaz quando conjuntos de dados estão disponíveis para treinamento e teste, o que é o caso para uma ampla gama de doenças e enfermidades. No entanto, quem irá sentar com o paciente e com os familiares para discutir opções de tratamento? É muito menos provável que isso seja automatizado em um futuro próximo.

Depois de refletir sobre as características de vários empregos e profissões, dois aspectos de trabalho não rotineiros me parecem particularmente comuns e difíceis de automatizar:

Primeiro, emoção. A emoção desempenha um papel importante na comunicação humana (pense naquele médico sentado com a família). Ela está criticamente envolvida em praticamente todas as formas de comunicação não verbal e na empatia. A emoção não é apenas complexa e cheia de nuances, mas também interage com muitos de nossos processos de decisão. O funcionamento da emoção tem se mostrado desafiador de entender cientificamente (embora tenha havido progresso) e é difícil de construir em um sistema automatizado que mimetize a atenção plena com o interesse de outro. Empatia, escuta ativa e dar valor às emoções são habilidades fundamentais para os trabalhadores do futuro.

Em segundo lugar, contexto. Os humanos podem facilmente (ou mais facilmente) levar em conta o contexto ao tomar decisões ou interagir com outras pessoas. O contexto é particularmente interessante porque é aberto e imprevisível. Por exemplo, sempre que há uma notícia ou fato novo, ela pode mudar o contexto (em maior ou menor escala) em que operamos. Além disso, mudanças no contexto podem mudar não apenas a forma como os fatores interagem entre si, mas podem introduzir novos fatores que reconfiguraram a sua organização. Visão sistêmica, entendimento do contexto e capacidade de priorização são habilidades fundamentais para os trabalhadores do futuro.

Nossa capacidade de gerenciar e utilizar as emoções e levar em consideração os efeitos do contexto são os principais ingredientes do pensamento crítico para desenvolvimento de soluções criativas para resolução de problemas, comunicação eficaz, aprendizado adaptativo e bom senso. Ainda é muito difícil (e talvez nem queiramos) programar máquinas para emular tais conhecimentos e habilidades, e não está claro quando (ou se) os esforços incipientes de hoje darão frutos.

E, de fato, essas são exatamente as habilidades que os empregadores de todos os setores relatam consistentemente buscar candidatos a empregos. Por exemplo, em uma pesquisa, 93% dos empregadores relataram que “a capacidade demonstrada de um candidato para pensar criticamente, comunicar-se com clareza e resolver problemas complexos é mais importante do que seu curso de graduação”. Além disso, os empregadores procuram candidatos que tenham outros tipos de “competências pessoais”, como a capacidade de aprender de forma adaptativa, de tomar boas decisões e de trabalhar bem com outras pessoas. Essas habilidades tão procuradas, é claro, combinam perfeitamente com o tipo de coisas que as pessoas podem fazer bem, mas são e continuarão sendo difíceis de automatizar.

Tudo isso sugere que nossos sistemas educacionais devem se concentrar não apenas em como as pessoas interagem com a tecnologia (por exemplo, ensinando os alunos a codificar), mas também em como eles podem fazer coisas que a tecnologia não fará em breve. Que bom, ainda há muito espaço para os humanos.

Gilberto Strafacci Neto

Country Manager da Practia no Brasil (www.practiaglobal.com.br) e Senior Partner do Setec Consulting Group (www.setecnet.com.br). Master Business Essentials CORe Program pela Harvard Business School, MBA em Liderança e Inovação, Engenheiro Mecânico pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Master Black Belt, Agile Coach, Design Thinker, Manager 3.0, Certified Six Sigma Master Black Belt pela American Society for Quality (ASQ) e Certified Scrum Master pela Scrum Alliance e Facilitador Certificado LEGO® SERIOUS PLAY®

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