“Num mundo inundado de informações irrelevantes, clareza é poder” – Yuval Noah Harari
Em nossa era digital contemporânea, somos inundados por um fluxo constante de dados e informações. Este mar de dados, se bem gerenciado e analisado, tem o potencial de nos fornecer insights significativos e a capacidade de tomar decisões informadas. No entanto, se não for tratado corretamente, pode ser avassalador e contraproducente. Nesse contexto, a metodologia Lean Seis Sigma surge como uma poderosa aliada, capaz de transformar esse excesso de informações em estratégias de negócios inteligentes e eficazes.
A metodologia Lean Seis Sigma, ao combinar a eficiência do Lean com a robustez estatística do Seis Sigma, pode ser uma ferramenta muito útil no mundo do Big Data. Ela é projetada para melhorar a qualidade dos processos de negócios, reduzindo a variação e eliminando o desperdício. Com o Big Data, as empresas podem usar essas ferramentas para identificar padrões, eliminar causas de defeitos e reduzir inconsistências, tudo isso baseado em dados e análises sólidas, e não em suposições.
A metodologia Lean Seis Sigma se beneficia enormemente do Big Data ao permitir análises mais aprofundadas e decisões baseadas em dados. Com o Big Data, a coleta e a análise de dados são feitas em grande escala e velocidade, permitindo a identificação de tendências e padrões em tempo real. Isso proporciona aos profissionais do Lean Seis Sigma a capacidade de detectar defeitos ou ineficiências quase que instantaneamente, permitindo correções mais rápidas e precisas.
Da mesma forma, a metodologia Lean Seis Sigma potencializa o valor do Big Data ao oferecer uma estrutura estruturada para análise e interpretação dos dados. Com o DMAIC (Define, Measure, Analyze, Improve, Control), uma abordagem sistemática é usada para entender o problema, medir o desempenho atual, identificar as causas-raiz, implementar melhorias e garantir que as mudanças sejam sustentáveis. Isso facilita a exploração do Big Data de maneira eficiente e eficaz, extraindo informações valiosas que de outra forma poderiam ser perdidas no ruído.
Vejamos abaixo como o DMAIC auxilia na extração de valor de dados:
1. Define (Definir): Na etapa de definição, o foco está em identificar claramente o problema que precisa ser resolvido e os objetivos do projeto. Aqui, os dados podem ser úteis para ajudar a entender a extensão do problema e definir metas realistas. Por exemplo, se um problema na qualidade do produto for identificado, os dados podem ajudar a quantificar a extensão desse problema em termos de defeitos por unidade ou custo dos defeitos.
2. Measure (Medir): Nesta etapa, os dados desempenham um papel crucial. É onde se quantifica o desempenho atual do processo que está sendo melhorado. Isso envolve coleta e análise de dados relevantes para fornecer uma linha de base contra a qual o progresso pode ser medido. É essencial garantir a qualidade dos dados nesta fase, pois isso afetará a precisão de todas as análises futuras.
3. Analyze (Analisar): Aqui é onde o Seis Sigma realmente brilha. Com ferramentas estatísticas avançadas, a equipe do projeto analisa os dados coletados para identificar as causas-raiz do problema. Essa análise pode incluir a identificação de relações de causa e efeito, a busca por correlações e a utilização de ferramentas como diagramas de causa e efeito ou análise de regressão.
4. Improve (Melhorar): Uma vez identificadas as causas-raiz do problema, é hora de propor, testar e implementar soluções. Os dados aqui são usados para simular os efeitos das soluções propostas e para avaliar o seu sucesso depois de implementadas. As mudanças que demonstram melhoria significativa são padronizadas e implementadas em toda a organização.
5. Control (Controlar): A fase de controle é onde o novo processo é monitorado para garantir que as melhorias sejam sustentáveis. Mais uma vez, os dados são fundamentais. Com o uso de cartas de controle e outras ferramentas de monitoramento, a equipe pode acompanhar o desempenho do processo ao longo do tempo e detectar qualquer desvio da média. Isso permite ações corretivas rápidas, garantindo que os benefícios das melhorias sejam mantidos a longo prazo.
Exemplos
1. Manufatura: No setor de manufatura, o Lean Seis Sigma pode ser crucial para analisar volumes extensos de dados gerados a partir de diferentes etapas do processo de produção. Por exemplo, os sensores na linha de produção podem gerar dados sobre variações na qualidade dos produtos, tempo de ciclo, tempos de inatividade de máquinas, entre outros. Utilizando a metodologia Lean Seis Sigma, é possível identificar as causas-raiz dessas variações e eliminar o desperdício, melhorando assim a eficiência da produção. Além disso, com a análise de regressão e técnicas estatísticas do Seis Sigma, pode-se prever o desempenho do processo e antecipar problemas futuros.
2. Saúde: No setor de saúde, grandes volumes de dados são gerados diariamente, abrangendo informações sobre pacientes, resultados de exames, procedimentos médicos, etc. A aplicação do Lean Seis Sigma pode ser muito útil na análise desses dados para melhorar a qualidade e a eficiência do atendimento. Por exemplo, a análise de dados de pacientes pode revelar padrões em reinternações ou em complicações pós-operatórias. Com base nesses insights, os profissionais de saúde podem implementar melhorias no processo de cuidados, reduzindo o número de reinternações e melhorando a segurança do paciente.
3. Varejo: No setor de varejo, o Lean Seis Sigma pode ser usado para analisar volumes extensivos de dados de vendas, comportamento do consumidor, estoque e muito mais. Essa análise pode ajudar a entender os padrões de compra dos clientes, identificar produtos de baixo desempenho e otimizar a gestão de estoque. Por exemplo, a análise dos padrões de compra pode indicar quais produtos são frequentemente comprados juntos, o que pode ajudar a aprimorar as estratégias de marketing e vendas. Além disso, a análise de dados de estoque com a metodologia Lean Seis Sigma pode reduzir o excesso de estoque, minimizar os custos e melhorar a eficiência operacional.
Em conclusão, no mundo atual, sobrecarregado de dados, o Lean Seis Sigma tem uma relevância e importância crescentes. Ao combinar a metodologia Lean Seis Sigma com o Big Data, as empresas podem transformar uma inundação de dados em uma mina de ouro de insights e oportunidades de melhoria. É uma combinação poderosa que pode levar à excelência operacional e ao sucesso nos negócios. No fim das contas, o Lean Seis Sigma e o Big Data não são apenas sobre números e dados, mas sobre como usar essas informações para criar valor real e sustentável para os clientes e para a organização.
Gilberto Strafacci Neto
Chief of Strategy da Practia no Brasil (www.practiaglobal.com.br) e Senior Partner do Setec Consulting Group (www.setecnet.com.br). Master Business Essentials CORe Program pela Harvard Business School, MBA em Liderança e Inovação, Engenheiro Mecânico pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Master Black Belt, Agile Coach, Design Thinker, Manager 3.0, Certified Six Sigma Master Black Belt pela American Society for Quality (ASQ) e Certified Scrum Master pela Scrum Alliance e Facilitador Certificado LEGO® SERIOUS PLAY®