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Você não irá inovar se não souber quais problemas está resolvendo

 

O mundo está cheio de histórias envolventes e sedutoras sobre criatividade e desenvolvimento de invenções disruptivas que mostraram novas maneiras de se resolver problemas e assim estabeleceram novos paradigmas.

Por exemplo, podemos citar a invenção do estribo. Mesmo que você nunca tenha montado em um cavalo, é fácil imaginar como deve ser difícil fazer isso sem usar os estribos.

Durante toda a antiguidade, até aproximadamente o século 4 d.C., as pessoas montavam a cavalo com uma simples manta, sem equilíbrio algum. Por volta do século 5 d.C. esta invenção chinesa chegou ao ocidente, por Bizâncio, sendo adotada pelos francos, posteriormente. A inovação disruptiva foi tamanha que, dizem alguns, foi a responsável pela introdução do feudalismo na Europa.

O que antes levava anos para se aprender: montar em um cavalo sem cair o tempo todo e usá-lo em batalha, agora se fazia em 3 ou 4 meses. O estribo introduziu um novo modelo, um novo comportamento e mudou não só a forma de se montar um cavalo, mas toda forma de ensino de montaria e a estrutura dos exércitos daqueles tempos.

Assim como o estribo, existem diversos exemplos de inovações disruptivas que de tão geniais e simples, passam a idéia de que o processo de criação é pontual, individual, não incremental e totalmente pautado por um momento de iluminação.

Pensar inovações desta forma torna a criatividade um mistério e não um método. Como muitas pessoas perderam a solução para um problema tão relevante por tanto tempo? E como, de repente, uma pessoa primeiro apresentou essa solução?

Na verdade, a maioria das pessoas que criam soluções criativas para problemas dependem de um método relativamente direto: encontrar uma solução dentro da memória coletiva das pessoas que já trabalharam no problema. Ou seja, alguém que trabalha para resolver o problema sabe algo adicional, porém suficiente para resolver a equação completa e seu aporte de conhecimento é exatamente suficiente para se encontrar uma primeira solução viável – só não sabemos isso no início.

A memória humana é configurada de forma a encontrar uma informação que serve como sugestão para recuperar outras coisas relacionadas. Se eu pedir para você imaginar uma festa de aniversário, você pode recuperar rapidamente informações sobre as festas de aniversário que você participou, e você provavelmente poderá pensar em chapéus de festas, bolo e cantar “Feliz aniversário”. Você não precisa gastar muita energia para recordar essa informação; Emerge como resultado da sugestão inicial.

Se você quiser recuperar outra coisa da memória, você precisa alterar a sugestão. Se eu agora pedir que você pense em salada, você provavelmente pode lembrar as informações sobre alface, tomate e temperos, mesmo que você estivesse pensando em festas de aniversário há apenas um minuto.

Ao buscar a resolução de problemas criativos, a afirmação do problema é a sugestão da memória, ou seja, o ponto de partida que gera as analogias e comparações. Para gerar uma variedade de soluções possíveis para um problema, então, o solucionador de problemas deve alterar a descrição do problema de maneira que levem novas informações serem extraídas da memória.

Boas soluções e inovações disruptivas resolvem vários problemas ao mesmo tempo, ou seja, foram geradas com base em diversas frentes de pensamentos que ocorreram simultaneamente ou não.

Por que o estribo é o paradigma há mais de 15 séculos de como se montar em um cavalo? Porque além de facilitar a montagem, possibilita o maior controle do animal, gera maior equilíbrio e apoio ao cavaleiro, possibilita assumir uma posição com os joelhos esticados que favorece um possível ataque com armas.

São várias perguntas a serem respondidas e soluções anteriores que foram abandonadas ou aplicadas parcialmente pois possivelmente resolviam somente parte do problema.

Além disso, a inovação ocorre no momento que deve ocorrer. Possivelmente havia uma demanda por utilização dos cavalos em batalhas e necessidade de treinamentos em montaria mais rápidos. O cavalo era a principal forma de transporte e diversos especialistas estavam dedicados a pensar sobre o tema. Conjuntamente, ferreiros avançavam na forma de conformação de metais e outros artesões aperfeiçoavam a forma da cela do cavalo que, em conjunto com o estribo, gerou uma condição favorável e sinérgica.

Um outro exemplo que vale lembrar: Todos sabemos que o iPad foi o primeiro tablet a ganhar escala comercial e foi considerado por muitos uma inovação disruptiva. Porém, vale lembrar que primeiro grande lançamento desses dispositivos foi feito pela Microsoft em um grande evento realizado em 2002, quando apresentou o Tablet PC com Windows XP. A base conceitual do tablet e a demanda por mobilidade já existia, porém as condições eram desfavoráveis: A tecnologia das baterias com pouca autonomia, a internet ainda dependente de ligação com cabos (sem Wifi) e o excesso de peso dos materiais eram condições importantíssimas ao funcionamento do tablet porém essas tecnologias adicionais ainda não estavam totalmente maduras. Em 2002 não havia espaço ou condições adequadas para Tablet PC e tão pouco para o iPad.

Qual a diferença entre o Tablet PC e o iPad, então? O iPad resolvia mais problemas ao mesmo tempo. Qual dos produtos foi mais inovador? Com certeza o Tablet PC, afinal foi o primeiro. Qual deles foi disruptivo? Essa nem preciso responder. Ou seja, uma inovação disruptiva resolve mais problemas ao mesmo tempo e depende inevitavelmente do momento e das condições de contorno que suportam a inovação.

Voltando ao exemplo original: não somente um, mas muitos problemas são resolvidos pelo estribo. Além disso, as condições para que essa solução ganhasse escala estavam plenamente satisfeitas: demanda, tecnologia com metais e couro, disponibilidade de animais, etc. Dessa forma, a próxima solução disruptiva deve olhar o problema por vários lados, considerando a memória dos pequenos avanços preliminares que já existem.

Grupos de trabalho mais consistentes e criativos são aqueles que encontram muitas maneiras diferentes de descrever o problema a ser resolvido e conseguem integrar inovação às soluções já existentes. Não busque o ineditismo, mas sim resolver o máximo de problemas ao mesmo tempo.

Dessa forma, os grupos devem encontrar várias maneiras de descrever a essência do problema que está sendo resolvido de maneira que se concentrem nas relações entre os objetos ou uma descrição mais abstrata da meta (por exemplo, a melhor forma de subir e ter equilíbrio sobre um cavalo). Cada uma dessas descrições ajudará as pessoas a recuperar o conhecimento mais distante do domínio em que o problema está indicado.

Seguindo essa linha de raciocínio, extrairemos a melhor solução para cada porção do problema: A posição dos estribos deve ser simétrica para gerar equilíbrio, a altura deve possibilitar a montagem sem ajuda de outra pessoa, os materiais devem ser resistentes para aguentar o peso do cavaleiro, as tiras que sustentam o apoio devem ser flexíveis para possibilitar “abraçar” o corpo do cavalo e etc.

A solução só é simples para quem a enxerga superficialmente, daí a genialidade dessa construção. Uma solução simples, inovadora e disruptiva nunca tem uma construção trivial.

Talvez a maioria de nós olhou no lugar errado para nossas ideias criativas pedindo às pessoas que “pensem fora da caixa”, mas sem direcionar claramente quais os problemas precisam ser resolvidos. Da próxima vez pensem em olhar fora de diversas caixas distintas cada uma caracterizada por um problema bem definido e pautado pelas melhores práticas e memórias associadas.

 

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